e eu que não sou anjo nem nada


Aqui em Salvador tive o prazer de conviver por quase três anos com uma moça muito da inquieta e brilhante. Ela fumava pelos quatro cantos da casa – lugar de trabalho – compulsivamente, e nos intervalos das alucinações e desvarios acadêmicos conversávamos sobre absolutamente tudo. De importante e de sem importância. Aprendi um tanto com ela. Mas deste tanto, quero deixar registradas três coisas:

- que a vida não se faz sem solidariedade
- o quanto são preciosos os (poucos) encontros com seres humanos com quem se pode, e se consegue, passar horas a fio falando (muita) besteira na mesa de um boteco
- a amar a desbocada da Hilda Hilst e o elegante Paulo Mendes Campos...


Quando nasci um anjo esbelto,
desses que tocam trombeta,
anunciou:vai carregar bandeira.
Cargo muito pesado pra mulher,
esta espécie ainda envergonhada.
Aceito os subterfúgios que me cabem,
sem precisar mentir.
Não sou tão feia que não possa casar,
acho o Rio de Janeiro uma beleza e
ora sim, ora não, creio em parto sem dor.
Mas o que sinto escrevo.
Cumpro a sina.Inauguro linhagens, fundo reinos
– dor não é amargura.
Minha tristeza não tem pedigree,
já a minha vontade de alegria,
sua raiz vai ao meu mil avô.
Vai ser coxo na vida é maldição pra homem.
Mulher é desdobrável. Eu sou.

("com licença poética" - Adelia Prado)


Este poema não é de nenhum dos dois, mas foi ela também quem me apresentou. E esse poema é ela. Somos nós apartadas, numa terra estrangeira. É a nossa solidariedade. São as nossas infindaveis horas ganhas nos botecos nessa terra de todos os santos.

Para Virginia. Porque força é a parte que nos cabe neste mundo. Porque sim, carregamos bandeira, recusando sermos coxo!
E porque sentir saudade e uma forma de amar.


9 comentários:

Dona da Vida disse...

Arrasou!!! Sentir saudade, mais um ponto de vista do amor...

Kate disse...

Consertei minha senha!
M., tua delicadeza não cessa de me impressionar.
Esse escrito é a Virgínia mesmo.
E essa saudade, se isso não for amor, não sei de mais nada.
Cada vez mais árida a vida aqui nessa cidade. Cada vez mais querendo voar pra longe...
Inscrições encerram-se no dia 10/10.
beijos

Monica L F disse...

Kás, inscrição pra que?
As minhas duas vão até dia 22, rssss!

Que bom , dona, que senha é consertável! Ao mesnos isso!!

Então, pronta pra brincadeira?

Olha que coincidência. Ontem tentei colocar um bilhetinho aqui mais ou menos assim:
K, sua siceridade me sensibiliza!É o que vc me diz hoje!! brigada!

Vem me ver!!

e Ana, lá em Sto. Amaro, na fábrica, lembrei de vc!

Beijos garotinha!

Monica L F disse...

garotas,
vejo vcs só na próxima semana...
vou ficar "me capacitando" dois dias num retiro (mesmo!) pela SESAB, depois...rumo a Cachoeira, Aracajú e Juazeiro...
avisto uma folguinha pra dar um pulinho por aqui!
E, tenho um textinho gigante pra postar. Será que cabe?
Beijos, m.

Anônimo disse...

quanta delicadeza, moniquinha...

continua postando.

bjs

vivi jorge disse...

Moniquinha:
a moça que me ensinou a não praguejar o sol, a buscar o pelourinho pelos cantos, a escutar borges com atenção, a procurar o nietsche pra entender a dor, a conversar sentada no chão da cozinha, a exercitar o silêncio pra valorizar a palavra, a contemplar somente ao invés de tanto impeto de tocar, a ouvir dorival caimi e caetano veloso de novo de novo de novo e de nunca cansar, a olhar admirada a vista da baía de todos os santos e agradecer, a reconciliar, a renascer, a restaurar os pontos e criar outros, muitos, novos, brilhantes e largos.
tiamu também neguinha, aproveita esse sol soteropolitanto de outubro por mim.
bejos emocionados.
vivi jorge

pablopillow disse...

amei tudo muito.
amo vivi também,
estou sentado no computador
da moça inclusive, que me
diz agora ter muitas saudades
de você. prazer. um beijo.

pablopillow disse...

amei tudo muito.
amo vivi também,
estou sentado no computador
da moça inclusive, que me
diz agora ter muitas saudades
de você. prazer. um beijo

pablopillow disse...
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