Este fim-de-semana estive numa cidadezinha bastante simpática e acolhedora do Recôncavo Baiano. Santo Amaro da Purificação não é somente terra de filhos ilustres. Não é apenas a casinha branca de porta e janelas de cor azul celeste que abriga a cem anos D. Canô. Nem tampouco o lugar que acolhe a linda Casa do Samba de Roda do Recôncavo Baiano. Ou de igrejas monumentais, vizinhas de casarões coloniais dos barões da monocultura (ali pode-se ver de perto a atração que o poder sempre exerceu sobre a instituição católica).
É mais. É também tristemente o lugar onde foi instalada na década de 1960 a Companhia Brasileira de Chumbo (COBRAC), produtora de lingote de chumbo até o ano de seu fechamento, em 1993. Triste porque tanto a cidade quanto os moradores foram, por mais de três décadas, vítimas da irresponsabilidade desta compania francesa, que não só sujeitou seus trabalhadores ao convívio e manuseio de metal pesado (chumbo e cadmo), mas também contaminou solo, ar e água, condenando e matando animais e produção agrícola dos pequenos produtores locais. Não sendo suficiente, vários prédios públicos, casas e ruas foram pavimentados com as escórias da fábrica. Sabe-se que o processo metalúrgico encampado pela indústria produziu e dispôs de forma aleatória (tanto nas áreas da fábrica quanto nas redondezas e a céu aberto) 490.000 t. de escória contaminada pelos metais. Idos 17 anos de fechamento da fábrica (visitei o monstrengo), ainda hoje são sentidas as conseqüências pela comunidade. A principal delas tem um nome bonito: saturnismo, nome dado à intoxicação por chumbo. Ao contrário de outros metais pesados, este é um elemento absolutamente estranho ao metabolismo humano, em qualquer quantidade (não quero falar aqui sobre os sintomas, ao contrario do nome, nada bonitos). Cerca de 900 trabalhadores estão cadastrados para avaliação e acompanhamento pela secretaria de saúde de lá, com auxilio da secretaria daqui e outros órgãos federais e internacionais. E muita gente! Mesmo porque as primeiras denúncias e solicitação para a interdição da fábrica datam de 1961!!!! Foram precisos 30 anos!!! É. As vezes e duro!
Mas alegrem-se. O fim de semana foi lindo, regado a bons encontros e a muito, muito samba miudinho! bjs...
Domingo também foi noite de festa no Gantois. Obrigações a Oxalá (o que foi aquil?!).
Terreiro que foi por mais de 60 anos comandado com sabedoria pela ialorixá Mãe Menininha, filha de Oxum, é um dos espaços de referência para o candomblé e os descendentes das Nações africanas dessa cidade. Casa Santa. Pisar lá me remete a uma ancestralidade e a uma força que vão muito além da minha compreensão.
Mas não e sobre a batida do atabaque que quero falar agora...Mas só um dado.
Aqui em Salvador as casas de santo são espaços predominantemente femininos. quase 60% dos terreiros são conduzidos e comandados pelas mães de santo.
Mulheres. Negras. De comunidades periféricas. Adeptas de um culto religioso não oficial.Fortes. Bom!
4 comentários:
amigas criando asas e abrindo novos caminhos...lind@s!
É incrível, mas minha senha não funciona mais...
que droga!
Este fim-de-semana estive numa cidadezinha bastante simpática e acolhedora do Recôncavo Baiano. Santo Amaro da Purificação não é somente terra de filhos ilustres. Não é apenas a casinha branca de porta e janelas de cor azul celeste que abriga a cem anos D. Canô. Nem tampouco o lugar que acolhe a linda Casa do Samba de Roda do Recôncavo Baiano. Ou de igrejas monumentais, vizinhas de casarões coloniais dos barões da monocultura (ali pode-se ver de perto a atração que o poder sempre exerceu sobre a instituição católica).
É mais. É também tristemente o lugar onde foi instalada na década de 1960 a Companhia Brasileira de Chumbo (COBRAC), produtora de lingote de chumbo até o ano de seu fechamento, em 1993. Triste porque tanto a cidade quanto os moradores foram, por mais de três décadas, vítimas da irresponsabilidade desta compania francesa, que não só sujeitou seus trabalhadores ao convívio e manuseio de metal pesado (chumbo e cadmo), mas também contaminou solo, ar e água, condenando e matando animais e produção agrícola dos pequenos produtores locais. Não sendo suficiente, vários prédios públicos, casas e ruas foram pavimentados com as escórias da fábrica. Sabe-se que o processo metalúrgico encampado pela indústria produziu e dispôs de forma aleatória (tanto nas áreas da fábrica quanto nas redondezas e a céu aberto) 490.000 t. de escória contaminada pelos metais. Idos 17 anos de fechamento da fábrica (visitei o monstrengo), ainda hoje são sentidas as conseqüências pela comunidade. A principal delas tem um nome bonito: saturnismo, nome dado à intoxicação por chumbo. Ao contrário de outros metais pesados, este é um elemento absolutamente estranho ao metabolismo humano, em qualquer quantidade (não quero falar aqui sobre os sintomas, ao contrario do nome, nada bonitos). Cerca de 900 trabalhadores estão cadastrados para avaliação e acompanhamento pela secretaria de saúde de lá, com auxilio da secretaria daqui e outros órgãos federais e internacionais. E muita gente! Mesmo porque as primeiras denúncias e solicitação para a interdição da fábrica datam de 1961!!!! Foram precisos 30 anos!!! É. As vezes e duro!
Mas alegrem-se. O fim de semana foi lindo, regado a bons encontros e a muito, muito samba miudinho!
bjs...
Domingo também foi noite de festa no Gantois. Obrigações a Oxalá (o que foi aquil?!).
Terreiro que foi por mais de 60 anos comandado com sabedoria pela ialorixá Mãe Menininha, filha de Oxum, é um dos espaços de referência para o candomblé e os descendentes das Nações africanas dessa cidade. Casa Santa. Pisar lá me remete a uma ancestralidade e a uma força que vão muito além da minha compreensão.
Mas não e sobre a batida do atabaque que quero falar agora...Mas só um dado.
Aqui em Salvador as casas de santo são espaços predominantemente femininos. quase 60% dos terreiros são conduzidos e comandados pelas mães de santo.
Mulheres. Negras. De comunidades periféricas. Adeptas de um culto religioso não oficial.Fortes. Bom!
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