Nas últimas semanas passei a freqüentar muito suspeitamente a agência do correio. pacote nas mãos. conteúdo desconhecido. destinatário idem. algum tempo ainda foi necessário para entender aquele passeio. o que exatamente carregava nos embrulhos.
E` que partes de mim deveriam ser enviadas para outros lugares e destinos. mas onde. ou quem receberia sem assombro pedaços do meu corpo? com certo pudor, sem saber bem como, fui adiante. consegui que as partes se fossem. dia após dia. sem alardes. mas também sem grandes cautelas. do jeito que tem que ser quando se desfaz do próprio corpo.
As primeiras despachadas foram minhas pernas. quase andam só, as coitadas. procuro no catalogo uma postagem que dê conta de seus esquecidos anseios ambulantes. Pernas às vezes precisam ir para lugares que o restante do corpo não deseja ir. não me condôo. deixo que se vão. necessitam reaprender caminhos. pernas só fazem sentido num corpo quando se sustentam, de preferência firmes, por conta e risco.
Num outro dia enviei minhas mãos. a algum tempo que em mim não serviam para nada. quem sabe não conseguem autonomia construindo desejos em outros cantos? desejo se constrói com as mãos. assim como se plantam árvores, escrevi no verso da caixa. e também, cuidado! mãos podem ser nocivas para o resto do corpo. quando se apropriam dos afazeres alheios. quando esquecem como se constroem quereres próprios. também podem ser engraçadas. quando irrefletidas desfazem num gesto estabanado algo que se pretendia sólido e duradouro.
Um pouco mais difícil foi me afastar dos olhos. tão viciados que estão. acostumados a ver só o que quero. precisam exercitar enxergar outros contornos. novos medos, cores, claridades. novos desassossegos. aceitar as órbitas vazias. deixar que se limpem. como se faz com os pára-brisas, mesmo que com água salgada. dois bons exercícios de desapego.
No último dia levei uma caixa embrulhada de forma especial. a moça do balcão pergunta porque este capricho todo. disse trata-se do meu coração. mas como? vai enviar seu coração? reticência. não, de fato o coração é meu. levo o último embrulho de volta pra casa e coloco sobre a mesa. ali permanece por alguns dias. mas não é o melhor lugar para ele. enfio na geladeira. ficará inerte, embrulhado, mas conservado.
Será que algum dia alguém se encarrega de juntar todas as partes e enviar de volta? talvez nem precise. sempre é hora de construir outro corpo. e quantas vezes forem necessárias. e todo corpo, em especial os novos, necessita um coração cantando vida. que seja o meu!
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5 comentários:
um pouco da minha nudez...
boa mais uma semana pra gente!
bjs
lindo demais... vc não está sozinha. aproveite o espaço e utilize.
moniquinha,
a cada dia mais linda!
bj...
Monica vc é linda demais, peladona assim, nem se fala!
Passei mal (hehehe).Tempo bom pra ir aos correios...
rssss......
cansadinha! tempo bom pra mandar metade do corpo pra assistência técnica.
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