O Homem que encolheu II
Um bancário de 55 anos trabalhou durante 32 anos, num mesmo banco, privatizado na década de 1990. Participava dos treinamentos oferecidos e desejava se tornar gerente. Trabalhou muito, 10 horas por dia, fez faculdade e pós-graduação em administração de empresas. Pouca atenção dava aos filhos e a esposa. Anos depois, conseguiu o cargo e enchia o peito para falar do seu trabalho, de sua empresa, das inovações, dos novos produtos.
Logo em seguida, o banco passou por um processo de “downzing”, reajustes e grandes tensões. Foi demitido, não sabia como contar para família, chorou e ficou indignado, pois faltavam, apenas, dois anos para a aposentadoria. Esteve no sindicato, pra buscar os poucos direitos. Recorreu no Ministério do Trabalho, para o seguro desemprego. Organizou curriculum, fez contatos e abriu até uma firma própria.
Pegou empréstimo, no mesmo banco. No desespero foi no INSS e consegui negociar um salário de aposentadoria. Vendeu o carro. Colocou os filhos em escola pública. Constantemente irritado, rompeu com o casamento de trinta anos. De tanto andar atrás de trabalho, qualquer que fosse, aprendeu a parar no bar e beber cachaça.
Dias atrás começou a sentir dores no peito e, forçado pelos filhos, procurou seu cardiologista de anos, mas o médico não o atendeu, já que não tinha “plano” e indicou o SUS. Depois de muito procurar, foi na Unidade de Saúde do bairro. Tomou um gole de cachaça e chegou na fila às 7h, mas só conseguiu marcar o clínico, pro encaminhamento, no fim do mês.
No caminho de volta uma notícia estampada no jornal lhe salta os olhos, “seu” banco foi o mais lucrativo de 2005. E encolheu.
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