Já repararam como é bom dizer "o ano passado"? É como quem já tivesse atravessado um rio, deixando tudo na outra margem...Tudo sim, tudo mesmo! Porque, embora nesse "tudo" se incluam algumas ilusões, a alma está leve, livre, numa extraordinária sensação de alívio, como só se poderiam sentir as almas desencarnadas. Mas no ano passado, como eu ia dizendo, ou mais precisamente, no último dia do ano passado deparei com um despacho da Associeted Press em que, depois de anunciado como se comemoraria nos diversos países da Europa a chegada do Ano Novo, informava-se o seguinte, que bem merece um parágrafo à parte:
"Na Itália, quando soarem os sinos à meia-noite, todo mundo atirará pelas janelas as panelas velhas e os vasos rachados".
Ótimo! O meu ímpeto, modesto mas sincero, foi atirar-me eu próprio pela janela, tendo apenas no bolso, à guisa de explicação para as autoridades, um recorte do referido despacho. Mas seria levar muito longe uma simples metáfora, aliás praticamente irrealizável, porque resido num andar térreo. E, por outro lado, metáforas a gente não faz para a Polícia, que só quer saber de coisas concretas. Metáforas são para aproveitar em versos...
Atirei-me, pois, metaforicamente, pela janela do tricentésimo-sexagésimo-quinto andar do ano passado. Morri? Não. Ressuscitei. Que isto da passagem de um ano para outro é um corriqueiro fenômeno de morte e ressurreição - morte do ano velho e sua ressurreição como ano novo, morte da nossa vida velha para uma vida nova.
Mario Quintana
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4 comentários:
Queria ter postado este M.Q. a mais de um mês, exatamente no dia 19 de novembro, qdo definitivamente meu ano acabou. Deliberei a revelia, depois de uma reunião foda de trabalho - quando cheguei em casa, sentei, chorei os atrasados, pensei no que foi meu ano e o que queria e não queria a partir de então - que o ano finalmente tinha acabado. Acabou cedo então...mas tudo bem, pq ganhei um novo ano no ano de Omolú (rsss!!!).
Lembro de algumas determinações nossas pra outros anos: muita cambalhota, muito pé descalço na areia, tempo pro céu e pra lua, muita gargalhada com os amigos, sorvete na praça, muito banho de mar, força pros embates, muita, muita poesia....que persevere!! Que alegria seja nossa companheira, se não fiel, ao menos sincera...
Alguns dos tantos lembretes deixados por 2007:
a vida definitivamente não é um épico (micropolitica do desejo agora me diz muito).
acredito mais que nunca que o bem maior é o respeito que temos pelas pessoas que compõem nossas vidas.
o passado a gente não resolve, aceita! E, se possível e desejável, esquece...
as últimas energias de 2007 estão agora direcionadas pra nossa viagem!!!
bjs
Monica, vc é minha ídala!!!
Moças, voltei...mas Ana está solta por lá ainda, feliz no pedacinho do paraíso que se localiza no sul da Bahia. Estou leve-leve, doce-doce, prontinha pros embates e pros tantos e tantos de projetos e realizações que vão rolar. Ogun nos acompanhe e guie, no meu caso, no meu colo!!
Já estou com tantas saudades que nem sabem!!! cinco beijos
adorei começar o dia lendo um texto tão incrível! :)
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