para borges

é noite.
vi um cão com cara de menina de cabelos encaracolados
naquele canil
a proprietária da casa me diz que ele foi recebida bem e
alegremente pela família por que
de forma surpreendente e inexplicável
tinha se dado muito bem com o gatinho que, há anos, também lá habitava

Borges não compartilhou dos meus sonhos quando escreve sobre uma certa enciclopédia chinesa
(diz ele: “os animais se dividem em a) pertencentes ao imperador, b) embalsamados, c) domesticados, d) leitões, e) sereias, f) fabulosos, g) cães em liberdade, h) incluídos na presente classificação i) que se agitam como loucos, j) inumeráveis, k) desenhados com um pincel muito fino de pelo de camelo, l) et cetera, m) que acabam de quebrar a bilha n) que de longe parecem moscas”).

ora, na sua lista Borges esquece displicentemente de incluir
o) as cadelas que se pretendem mulheres
p) os bichos dos telhados que se passam por homens.